quarta-feira, 25 de março de 2009

Vinicius e o amor perene

Para Platão o que vale é o sentimento espiritualizado, o "amor de alma", que fica sempre o mesmo, ainda que os amantes sofram todos os tipos de alterações do mundo físico.
Vinícius de Moraes, naquele bem conhecido soneto que termina com "que não seja imortal, posto que é chama/mas que seja infinito enquanto dure", canta a intensidade do momento. Uma paixão violenta de alguns dias valeria mais que um amor morno de anos...
Mas o poeta sabe também ser bem clássico, a até platônico. Veja:


Soneto de aniversário
Passem-se as horas, dias, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece

De que maneira o platonismo se manifesta aqui?


Um abraço!
Paulo

terça-feira, 24 de março de 2009

Um certo Vinícius Soneto de Moraes

Temos falado que uma das formas poéticas mais prestigiadas no Ocidente é o soneto. De origem um tanto obscura, esse tipo de poema curto - catorze versos divididos em dois quartetos e dois tercetos - presta-se ao desenvolvimento de raciocínios lógicos (com uma apresentação do tema, desenvolvimento e conclusão) ou mesmo de pequenas narrativas sintéticas.
Na Língua Portuguesa, o soneto chegou em 1527, trazido por um estudioso que fora passar uma temporada de estudos na Itália: Sá de Miranda. Mas quem elevou o soneto a grandes alturas no nosso idioma foi o senhor Luís Vaz de Camões, que fez o que quis com esses catorzes versos decassílabos: pensou em o quanto a vida é efêmera, idealizou suas amadas - especialmente a chinezinha Dinamene - falou de mitos e deuses gregos, cantou o amor de maneira clássica e equilibrada.
Mas Camões soube também expressar paixões e contrariedades por meio do soneto. "Amor é fogo que arde sem se ver", soneto pra lá de célebre, trabalha com antíteses e paradoxos para demonstrar o quanto é difícil definir o amor.
E por falar em Amor e por falar em soneto, Vinícius de Moraes foi dos maiores sonetistas modernos do idioma, senão o maior. Ele bebeu em largos goles na fonte camoniana e podemos perceber ecos maneiristas no poema abaixo. Veja se você os identifica:
Soneto do maior amor
Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo
Paixão, amor, descontrole, viver a esmo... Parace até um poeta doidivanas, porra-louca, que pouco se importava com o que fosse sério. Não caia nessa. Apesar de todos os porres, Vinícius foi profundo conhecedor do idioma e da nossa tradição literária. Não se faz poesia de qualidade sem ter lido muito toda a sorte de boa Literatura.
Viu Maneirismo no soneto?
Então comente!
Um abraço!

domingo, 22 de março de 2009

Pedrapalavra

Porque palavra cria compromisso . Porque palavra define o mundo. Amplia horizontes, resgata memórias, desperta sentidos. Porque palavra empenhada tem peso, é pedra.

Porque pedra dura cria casa, abrigo. Porque pedra é chão, onde tudo cresce.

Pedrapalavra é para plantarmos idéias no mundo. Trocar idéias. Gerar polêmicas. Entre e cresça. Apresente-se e viva!

Memórias de um Sargento de Milícias

Alunos:
Eis um livro significativo: Memórias de um Sargento de Milícias. Texto leve, cheio de peripécias e aventuras ambientadas no Rio de Janeiro do tempo do rei. Muitos se perguntam por que essa obra literária é classificada como Romântica. Podemos lembrar que um dos traços desta escola literária é a elaboração artística de um passado nacional.
E isso, sem dúvida, acontece no livro. Não sob o viés da idealização, comum no Romantismo, mas sob o ponto de vista do humor e da ironia.
Há constantes referências a um passado nem muito distante e nem edificante: uma procissão conhecida como a "Via Sacra do Bom Jesus" era motivo de galhofas e brincadeiras. Veja um trecho do livro:
"Este ato [a procissão], que satisfazia a devoção dos carolas, dava pasto e ocasião a quanta sorte de zombaria e imoralidade lembrava aos rapazes daquela época, que são os velhos de hoje, e que tanto clamam contra o desrespeito dos moços de agora".
Essa atitude irônica também transparece quando o narrador se refere ao que acontecia em pleno Paço Imperial, no capítulo "Pátio dos Bichos". Um grupo de quatro oficiais superiores, ao invés de trabalhar, dormia sonorosamente:
"Às vezes acontecia adormecerem todos ao mesmo tempo e então com a ressonância de suas aspirações passando pelos narizes atabacados, entoavam um quarteto, pedaço impagável, que os oficiais e soldados que estavam de guarda, criados e mais pessoas que passavam,vinham apreciar à porta. Eram os pobres homens muitas vezes vítimas de caçoadas que naquele tempo de poucas preocupações eram objeto de estudo de muito gente"
Será que esse cenário de descaso, de desocupação em plena sede do poder, mudou no Brasil? Os nossos senadores tinham até há pouco um "diretor de check-in", nome chique pra designar um funcionário responsável por furar fila nos aeroportos para os nossos distintos representantes.
As Memórias realizam, dessa forma, uma das premissas do Romantismo: a construção da identidade nacional. Mas sem exibí-la sob o viés da grandiosidade e do ufanismo dos índios idealizados de José de Alencar.
Será que Manuel Antonio chegou mais perto do caráter das instituições e do povo brasileiro?
Pense, comente.
Um abraço!
Paulo

Slides Auto da Barca do Inferno

Você pode conferir os slides apresentados na aula Auto da Barca do Inferno no link abaixo:

http://rapidshare.com/files/212316238/Auto_da_Barca_-_09.ppt

Fique à vontade! Faça bom proveito!

Paulo

Auto da Barca do Inferno


Embora já tenham se passado quase quinhentos anos desde a primeira encenação deste auto de Gil Vicente, a obra continua capaz de representar os males da nossa sociedade. Certo, a peça se orienta por um forte moralismo católico, coisa já não tão atuante hoje como foi no passado. Mas ainda assim, podemos encontrar na nossa sociedade, infelizmente, elementos que foram exemplarmente caracterizados na peça. Não existem ainda sacerdotes imorais, como o frei Babriel? Não existe ainda a justiça corrupta, como se vê nas ações do Corregedor e do Procurador? Boa parte da elite atual não se preocupa apenas com as futilidades de sua vaidade, como fizera o fidalgo D. Anrique?
A atualidade das questões levantadas é indiscutível, e é isso que faz desse texto uma grande obra de arte, capaz de permanecer jovem, apesar de a sociedade ter se alterado tanto desde os tempos do dramaturgo português até os dias de hoje.
Há muitas relações possíveis deste texto com as outras obras da lista Fuvest/Unicamp.
- A estrutura de cenas independentes lembra a organização em capítulos mais ou menos independentes de Vidas Secas.
- O Judeu pede intervenção do meirinho para entrar na Barca. Na Barca do Inferno, pode? O Meirinho neste caso é, nada mais nada menos que o Fidalgo, o qual também é chamado de Corregedor. Meirinho aqui equivale a pessoa influente.
Não podemos esquecer que a profissão de meirinho aparece com frequência no livro Memórias de um Sargento de Milícias. Leonardo Pataca é um meirinho ilustre do Rio de Janeiro do tempo do rei. Neste caso, meirinho é Oficial de Justiça, encarregado de intimar pessoas a comparecer perante a Justiça, no alegre Rio de Janeiro daquele tempo.
Você relaciona as personagens da peça com outras referências da lista Fuvest/Unicamp?
Deixe a sua opinião!
Até mais!