terça-feira, 24 de março de 2009

Um certo Vinícius Soneto de Moraes

Temos falado que uma das formas poéticas mais prestigiadas no Ocidente é o soneto. De origem um tanto obscura, esse tipo de poema curto - catorze versos divididos em dois quartetos e dois tercetos - presta-se ao desenvolvimento de raciocínios lógicos (com uma apresentação do tema, desenvolvimento e conclusão) ou mesmo de pequenas narrativas sintéticas.
Na Língua Portuguesa, o soneto chegou em 1527, trazido por um estudioso que fora passar uma temporada de estudos na Itália: Sá de Miranda. Mas quem elevou o soneto a grandes alturas no nosso idioma foi o senhor Luís Vaz de Camões, que fez o que quis com esses catorzes versos decassílabos: pensou em o quanto a vida é efêmera, idealizou suas amadas - especialmente a chinezinha Dinamene - falou de mitos e deuses gregos, cantou o amor de maneira clássica e equilibrada.
Mas Camões soube também expressar paixões e contrariedades por meio do soneto. "Amor é fogo que arde sem se ver", soneto pra lá de célebre, trabalha com antíteses e paradoxos para demonstrar o quanto é difícil definir o amor.
E por falar em Amor e por falar em soneto, Vinícius de Moraes foi dos maiores sonetistas modernos do idioma, senão o maior. Ele bebeu em largos goles na fonte camoniana e podemos perceber ecos maneiristas no poema abaixo. Veja se você os identifica:
Soneto do maior amor
Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo
Paixão, amor, descontrole, viver a esmo... Parace até um poeta doidivanas, porra-louca, que pouco se importava com o que fosse sério. Não caia nessa. Apesar de todos os porres, Vinícius foi profundo conhecedor do idioma e da nossa tradição literária. Não se faz poesia de qualidade sem ter lido muito toda a sorte de boa Literatura.
Viu Maneirismo no soneto?
Então comente!
Um abraço!

7 comentários:

  1. essa aproximação de idéias opostas (eis aí o Maneirismo,certo?)cria uma concepção de sentimento muito intrigante! nesse caso,e mesmo no do próprio bom e velho Camões (o do "amor é fogo que arde sem se ver e blábláblá" com todo respeito,of course)essas contradições se enquadram em quê? antítese,paradoxo ou oxímoro?

    muito legal a iniciativa do blog! vou acompanhar sempre!

    abraços

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oi Paulinho!

    Muito legal a aproximação entre o Camões e o Vinícius! Eu não tinha me tocado para essa semelhança deste texto com o maneirismo. Realmente o ecletismo do trabalho desse promete nos "dar pano pra manga"

    Um abraço

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Acredito que a influencia do maneirismo esteja principalmente representada nesse poema do Vinicius pelo jogo de opostos que ele faz em seus versos (alegre/triste, descontente/risada) logo no comeco. E o proprio tema em si, ne? Esse amor fervoroso que "quando toca fere".

    Enfim! Vinicius e Vinicius, nao e mesmo? Extremamente charmoso inclusive com as palavras! E realmente nunca tinha pensado sobre essa influencia de Camoes.
    E como voce mesmo disse em aula, que o portugues fazia um belo sucesso entre as mulheres, Vinicius de Moraes nao ficou por menos nesse quesito tambem!

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  6. POsso dizr que o soneto é maneirista por ter características do Classicísmo e do Barroco juntas? Quando se vê uma estrutura clássica, o soneto(2 quartetos, 2 tercetos em versos decassílabos), e também possui caracteristicas barrocas como o dualismo já citado pela *LIS. Ai agente faz uma média maritmética:
    barroco + classicismo/2 = meneirismo!!!!
    rs
    Muita viagem?

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  7. Parabéns pelo site... a aproximação de Camões com Vinicius de Moraes é muitas vezes passada para trás, mais é bem perceptivel no que é apresentado no site. A certa idealização do amor como algo sem explicação e confusa para ambos os autores, para Camões demonstra-se claro nas antiteses e para De Moraes também sendo que este afirma já no primeiro trecho do poema quão estranho é o amor.....
    Mais uma vez parabéns pelo site...

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